sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Por uma academia ética.

Olhar pela janela, das experiências vividas impõe certo ritmo à vida. Por vezes de resignação, por outras de inquietação e questionamentos culminando muitas vezes na fatídica constatação de que o respeito e o altruísmo estão na outra margem do lago...

É estranho resignar-se diante do preconceito e da prepotência, tratados por alguns como uma medalha de honra ao mérito... Tenho sim meus preconceitos e procuro mantê-los guardados a sete chaves... Será hipocrisia? Acredito que não, e acredito que preconceitos devem ser vencidos e superados, ou pelo menos podados para não ferirem as pessoas.

Acho engraçado... Algumas pessoas ditas entendidas de arte, sequer entendem de cultura, de diversidade cultural e buscam a todo custo impor as suas concepções pessoais para uma vasta multidão. Estas situações me fazem pensar que, embora, novamente em uma cadeira acadêmica muitos preceitos e ideais permanecem arraigados no meu posicionamento. Sejam preceitos sociológicos, políticos ou antropológicos que fazem sentir saudades do respeito à diversidade, formas de expressão, da ética e do amor pela ciência acadêmica...

A academia é um lugar para formação de profissionais éticos que de alguma forma vão trabalhar para a sociedade seja na construção de edifícios, na elaboração de projetos, no desenvolvimento da tecnologia, seja lecionando ou lidando com pacientes terminais. O que alguns profissionais mesquinhos esquecem é que a sociedade precede as profissões. A cultura não é privilégio de poucos. Uma vez que ela está arraigada seja em aspectos globais ou regionais.

Diante da mesquinhez e da visão unilateral do que é cultura, e das concepções de gosto e de escolhas recordo-me de Weber e do seu texto “A ciência como vocação”, que a meu ver deveria ser obrigatório para professores e ditos professores.

Num auditório, deve o professor falar diante dos seus ouvintes, e estes guardar silêncio; os estudantes, em vista da sua progressão, estão obrigados a frequentar as aulas de um professor e nelas não é permitido fazer críticas. Considero, pois, uma irresponsabilidade que o docente aproveite esta circunstância para estampar nos ouvintes as suas próprias ideias políticas, em vez de se limitar a cumprir a sua tarefa: ser útil com os seus conhecimentos e com as suas experiências científica. Sem dúvida, é possível que um indivíduo só em parte consiga excluir as suas simpatias subjectivas. Expõe-se então à mais viva crítica no foro da sua consciência. Mas isto nada prova, pois também são possíveis outros erros puramente objectivos, e todavia nada demonstram contra o dever de buscar a verdade. A minha recusa parte também, e tão só, do interesse cientifíco. Apoiando-me nas obras dos nossos historiadores, pretendo mostrar o seguinte: sempre que o homem de ciência surge com o seu próprio juízo de valor, cessa a plena compreensão dos factos. No entanto, esta questão ultrapassa em grande parte o tema do serão de hoje e exigiria longas discussões. (WEBER, Max. A ciência como vocação.)[1]

Olhar através da janela faz-me retomar aos meus preceitos natos da concepção do que é a academia, do que é o conhecimento, do que é cultura, e por fim do esquecimento da tarefa angular do educador: ser útil com os seus conhecimentos e com as suas experiências cientificas. O trágico em tudo isso, é que se esquecem das consequências - sempre que o homem de ciência surge com o seu próprio juízo de valor, cessa a plena compreensão dos factos.

Gostaria mesmo é de não estar olhando pela janela, mas apedrejando-a para que as luzes da ética, do respeito e do bom senso pudessem entrar... Mas, por enquanto fico a olhar pela janela de forma resignada...


[1] WEBER, Max. A ciência como vocação. Disponível em: http://www.lusosofia.net/textos/weber_a_ciencia_como_vocacao.pdf . Acesso em:25/02/2011

Um comentário:

  1. Anônimo - Obrigada pelos comentários!!!! O posicionamento neste blog é uma opinião pessoal de variados assuntos. Quando o texto foi escrito, foi pensando na minha concepção de educador: responsável por um papel fundamental na sociedade - o de agente transformador. Tenho minhas opiniões acerca de inúmeros assuntos, entretanto, não as exponho como forma de intimidação ou de preconceito. O que não deve ser aceitável é qualquer professor impor aos alunos o seu gosto e a sua opinião pessoal como verdade absoluta.

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